Fábulas: para que servem e de onde surgiram?
Habitualmente, as fábulas pretendem transmitir algum tipo de moralidade, ensinamento ou conselho ao leitor, fazendo com que ele reflita sobre seus comportamentos e sobre o próprio funcionamento da sociedade.
Originalmente, estas histórias faziam parte da tradição oral, sendo propagadas de boca em boca, e carregando grandes doses de sabedoria popular. Aos poucos, foram se fixando na literatura, podendo surgir em múltiplas versões e traduções.
Os principais responsáveis pela recolha e transmissão destas fábulas são Esopo (na Grécia Antiga) e Jean de La Fontaine (na França do século XVII).
1. A Cigarra e a Formiga
A cada bela estação uma formiga incansável levava para sua casa os mais abundantes mantimentos: quando chegou o inverno, estava farta. Uma cigarra, que todo o verão levara a cantar, achou-se então na maior miséria. Quase a morrer de fome, veio esta, de mãos postas, suplicar à formiga lhe emprestasse um pouco do que lhe sobrava, prometendo pagar-lhe com o juro que quisesse. A formiga, que não é de gênio emprestador; perguntou-lhe, pois, o que fizera no verão que não se precavera.
— No verão, cantei, o calor não me deixou trabalhar.
— Cantastes! tornou a formiga; pois agora dançai.
MORAL DA HISTÓRIA: Trabalhemos para nos livrarmos do suplício da cigarra, e não aturarmos a zombaria das formigas.
2. A Raposa e as Uvas
Uma raposa estava com muita fome. Foi quando viu uma parreira cheia de lindos cachos de uva. Imediatamente começou a dar pulos para ver se pegava as uvas. Mas a latada era muito alta e, por mais que pulasse, a raposa não as alcançava. — Estão verdes — disse, com ar de desprezo.
E já ia seguindo o seu caminho, quando ouviu um pequeno ruído. Pensando que era uma uva caindo, deu um pulo para abocanhá-la. Era apenas uma folha e a raposa foi-se embora, olhando disfarçadamente para os lados. Precisava ter certeza de que ninguém percebera que queria as uvas.
MORAL DA HISTÓRIA: Também é assim com as pessoas - quando não podem ter o que desejam, fingem que não o desejam.
3. A Lebre e a Tartaruga
— Tenho pena de você —, disse uma vez a lebre à tartaruga: — obrigada a andar com a tua casa às costas, não podes passear, correr, brincar, e livrar-te de teus inimigos.
— Guarda para ti a tua compaixão — disse a tartaruga — pesada como sou, e tu ligeira como te gabas de ser, apostemos que eu chego primeiro do que tu a qualquer meta que nos proponhamos a alcançar.
— Vá feito, disse a lebre: só pela graça aceito a aposta.
Ajustada a meta, pôs-se a tartaruga a caminho; a lebre que a via, pesada, ir remando em seco, ria-se como uma perdida; e pôs-se a saltar, a divertir-se; e a tartaruga ia-se adiantando.
— Olá! camarada, disse-lhe a lebre, não te canses assim! Que galope é esse? Olha que eu vou dormir um pouquinho.
E se bem o disse, melhor o fez; para escarnecer da tartaruga, deitou-se, e fingiu dormir, dizendo: sempre hei de chegar a tempo. De súbito olha; já era tarde; a tartaruga estava na meta, e vencedora lhe retribuía os seus deboches:
— Que vergonha! Uma tartaruga venceu em ligeireza a uma lebre!
MORAL DA HISTÓRIA: Nada vale correr; cumpre partir em tempo, e não se divertir pelo caminho.
4. As Árvores e o Machado
Um homem foi à floresta e pediu às árvores, para que estas lhe doassem um cabo para o seu machado novo.
O conselho das árvores então concorda com o seu pedido, e lhe ofertam uma jovem árvore para este fim.
E logo que o homem coloca o novo cabo no machado, começa furiosamente a usá-lo, e em pouco tempo, já havia derrubado com seus potentes golpes, as maiores e mais nobres árvores daquela floresta.
Um velho Carvalho, observando a destruição à sua volta, comenta desolado com um Cedro seu vizinho:
— O primeiro passo significou a perdição de todas nós. Se tivéssemos respeitado os direitos daquela jovem árvore, também teríamos preservado os nossos, e poderíamos ficar de pé ainda por muitos anos.
MORAL DA HISTÓRIA: Quem menospreza seu semelhante, não deve se surpreender se um dia lhe fizerem a mesma coisa.
5. A Mosca e o Carro
Ia uma mula puxando um carro estava ele pesadíssimo; a estrada era pedregosa e cheia de covas, e a mula suava dobrando de esforço, e tendo em paga as chicotadas do arreieiro.
Uma mosca que estava então sobre a cabeça do animal, compadeceu-se dele e disse-lhe ao ouvido: “Pobrezinho, vou aliviar-te do meu peso; agora já poderás puxar o carro”.
MORAL DA HISTÓRIA: Quanta gente, tendo a importância da mosca, tem igual presunção?
6. O Cão e a Máscara
Procurando um osso que roer, encontrou um cão uma máscara: era formosíssima, e de cores tão belas quão animadas; o cão farejou-a, e reconhecendo o que era, desviou-se com desdém.
- A cabeça é de certo bonita - disse - mas não tem miolos.
MORAL DA HISTÓRIA: Sobram neste mundo cabeças bonitas, porém desmioladas que só merecem desprezo.
7. A Cabra e o Asno
Uma cabra e um asno comiam ao mesmo tempo no estábulo. A cabra começou a invejar o asno porque acreditava que ele estava melhor alimentado, e lhe disse: - Tua vida é um tormento inacabável. Finge um ataque e deixa-te cair num fosso para que te deêm umas férias. Aceitou o asno o conselho, e deixando-se cair, machucou todo o corpo.
Vendo-o o amo, chamou o veterinário e lhe pediu um remédio para o pobre. Prescreveu o curandeiro que necessitava uma infusão com o pulmão de uma cabra, pois era muito eficiente para devolver o vigor. Para isso então degolaram a cabra e assim curaram o asno.
MORAL DA HISTÓRIA: Em todo plano de maldade, a vítima principal sempre é seu próprio criador.
8. A Lamparina
Uma lamparina cheia de óleo gabava-se de ter um brilho superior ao do Sol. Um assobio, uma rajada de vento e ela apagou-se. Acenderam-na de novo e lhe disseram:
- Ilumina e cala-te. O brilho dos astros não conhece o eclipse.
MORAL DA HISTÓRIA: Que o brilho de uma vida gloriosa não te encha de orgulho. Nada do que adquirimos nos pertence de verdade.
9. O Galo e a Pérola
Um galo, que ciscava no terreiro para encontrar alimento, fossem migalhas, ou bichinhos para comer, acabou encontrando uma pérola preciosa. Após observar sua beleza por um instante, disse:
- Ó linda e preciosa pedra, que reluz seja com o sol, seja com a lua, ainda que esteja num lugar sujo, se te encontrasse um humano, fosse ele um construtor de joias, uma dama que gostasse de enfeites, ou mesmo um mercenário, te recolherias com muita alegria, mas a mim de nada prestas pois que é mais importante uma migalha, um verme, ou um grão que sirvam para o sustento.
Dito isto, a deixou e seguiu esgravatando para buscar conveniente mantimento.
MORAL DA HISTÓRIA: Cada um valoriza o que é mais importante para si de acordo com as suas necessidades.
10. A Raposa e o Corvo
Um dia um corvo estava pousado no galho de uma árvore com um pedaço de queijo no bico quando passou uma raposa.
Vendo o corvo com o queijo, a raposa logo começou a matutar um jeito de se apoderar do queijo. Com esta idéia na cabeça, foi para debaixo da árvore, olhou para cima e disse:
- Que pássaro magnífico avisto nessa árvore! Que beleza estonteante! Que cores maravilhosas! Será que ele tem uma voz suave para combinar com tanta beleza! Se tiver, não há dúvida de que deve ser proclamado rei dos pássaros.
Ouvindo aquilo o corvo ficou que era pura vaidade. Para mostrar à raposa que sabia cantar, abriu o bico e soltou um sonoro "Cróóó!" . O queijo veio abaixo, claro, e a raposa abocanhou ligeiro aquela delícia, dizendo:
- Olhe, meu senhor, estou vendo que voz o senhor tem. O que não tem é inteligência!
MORAL DA HISTÓRIA: Cuidado com quem muito elogia.